sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O adeus necessário

         Relembro que assisti um filme e fiquei encantada com a cena que a protagonista lançava uma valiosíssima jóia ao mar. Aquilo sim era um adeus necessário; um adeus para ficar em paz. Saí do cinema pensando se precisava e do que precisava me desapegar. Aquela idéia de desapego como fechamento de um ciclo ou rompimento com o que nos incomoda me impreguinou de forma tão forte que comecei a praticar o desapego.  
Comecei observando minha casa, como guardava livros, revistas e papéis. Procurei identificar a real necessidade de guardar aquilo tudo. No geral, fui identificando o que tinha e era inútil, portanto não precisava ter. O que não tinha e era útil, portanto era preciso decidir se queria ter. Ter ou não ter passou a ser a questão. Tinha livros demais. Revistas guardadas para um dia ler novamente. Papéis guardados por puro vicio e muita energia parada. Então fui iniciando o processo desapego.  Fácil? Não!.
 Fiz do desapego uma política de substituição das coisas que não estavam tendo utilidade por coisas úteis.  Era hora de dar mais uma observada pela casa. A busca ao tesouro perdido Buscas, buscas... Parecia não ter mais nada. De repente! É isso! O tesouro perdido: ouro.  Mais uma vez: Ação! Pesei tudo e vendi. Bom, vendi e paguei  parte da reforma do apartamento. Com isso, aprendi  que ter é diferente de só guardar.
Nessas experiências fui me permitindo, discretamente, bisbilhotar um pouco como as pessoas reagem ao assunto desapego. Uma senhora de 83 anos me falou: “...no meu tempo tudo era marcado. Lembro inclusive de uns panos de prato que tenho até hoje guardado. São lindos com as nossas iniciais bordadas. Ah! Ta tudo naquelas caixas”. Como se não acreditasse perguntei “A senhora tem os panos de pratos de seu enxoval? Mas isso faz mais de cinqüenta anos! E a senhora não usou?”  Ela respondeu” Não! Eles eram tão bonitos que eu ia usando outros e .... Eu até já pensei em doar mas, depois desisti.” Das informações captadas naquele momento percebi que aquela senhora estava ali na minha frente, confirmando que só precisamos ter o que realmente precisamos ter. O que é preciso é sim, ter o prazer de ter coisas úteis.  
E isso é uma escolha o que nos exige, inclusive, aprender dizer adeus.

Um comentário:

  1. Flor,

    Seu texto nos leva a uma reflexão sobre os valores e sentimentos que portamos. O que realmente tem valor? o que realmente vale o nosso apego?

    Obrigada por compartilhar um pouco do seu muito.Parabéns!

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