quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Entre poderes e metamorfoses...a vida passa...

Quando Deus estava construindo o local, hoje Natal/RN, certamente  planejou... “aqui irão morar privilegiados cercados por rio, dunas e mar. Será terra de gente simples que gostará de pitomba, siriguela, cajá, caju, mangaba e coentro. Ribeirinhos que se alimentarão de crustáceos e moluscos ao ponto de receberem o nome de potiguares (comedores de camarão). Gente comunicativa que gostará de uma boa prosa na calçada. Gente amiga  suficiente para  oferecer um gostoso café com tapioca. Gente acolhedora que não negará a qualquer viajante um cantinho no seu lar. Seus dias serão aquecidos por um sol maravilhoso e  durante as noites  adotarão o hábito de levar um ventinho(brisa). Terão direito a uma linda visão panorâmica e parte de uma  mata que se chamará atlântica. Num futuro longínquo o local será transformado em cidade no dia do aniversário do meu filho, que oficialmente será 25/12. Os da terra deverão amar esse lugar e preservá-lo de todos os males e assim serão pessoas simples e  felizes para sempre”. O tempo foi passando... Deus satisfeito.... os nativos tomando banhos no grande rio, comendo peixes e crustáceos a base de colorau. Uma delícia. Chegaram as jangadas que, graças aos ventos alísios, aqui permaneceram e deram aos ribeirinhos o direito de ir e vir por águas nunca dantes navegadas. Ampliavam-se as oportunidades. Das águas salgadas vieram indiscriminadamente manjubinha, cioba, peixe espada, tainha, cavala, serra, guaiuba e muitos outros. Para a população local, ser potiguar foi por muito tempo se bronzear, comer peixe e  camarão, ser acolhedor e feliz. Até reformarem as barracas de Ponta Negra (marco divisório entre nativos e turistas). Aí a Cidade do Sol já crescia sem nem lembrar que Palumbo passou por aqui.  Os visitantes  ajudam a propagar o sabor do camarão, o banho de mar, a da barraca de D. Maria. A cidade caiu na boca do mundo. De tão acolhedora abriu espaços para os chiques que descobrem o paraíso, mas não suportam a ideia de dormir de rede  e comer colorau (programa de índio; é verdade!). Bom, juntaram os daqui com os de lá não sei onde e, os costumes foram mudando cada vez mais. Agora a pequena e velha Nova Amsterdã ganha novos costumes. A diversidade é unilateralmente respeitada; manda quem chega (U$$).  Conversar nas calçadas nem pensar; agora só por celular/internet. A visão panorâmica foi substituída por paredões. Pitomba e siriguela sumiram. Cajá, caju e mangaba só em polpa. Coentro disputas espaço com a salsa. Água de coco agora só com código de barra. Tapioca só nas padarias de conveniências e se for recheada de catupiry, leite condensado, chocolate ou qualquer outro sabor da moda. D. Maria? Sumiu! Foi substituída por garçons (quase) poliglotas que servem camarão com ervas finas em restaurantes especializados, cobrados no valor do dólar e ninguém mais fala em colorau. Tá doido? O que é isso? Foi-se o tempo da manjubinha; o peixe agora é salmão (importado). O banho de rio foi substituído pelo de piscina. O de mar só nas áreas sinalizadas. O futuro que demorava meses e se resumia a organização da festa da padroeira, do carnaval, da semana santa, do Natal e da festa de Santos Reis, agora é projetado para anos de espera num plano sólido de transformar o local numa arena (na antiguidade, local de combates com o intuito de divertir o público).  De forma abrupta e radical os atuais idealizadores entraram em campo e, Deus vendo o quanto seus privilegiados se tornaram imensuravelmente pacíficos diante de tantos interesses antagônicos, numa decisão típica de quem está zangado, esquentou o sol, deu fim a brisa e arroxou um calorão. Não vendo nenhuma reação, agora ameaça a possibilidade de tsunami. Faz isso não Deus! Perdoa essa gente, agora concupiscente,  e permuta logo esse paraíso por cédulas (verdinhas), o que se deseja agora é  carro importado, férias no exterior,  cama king, ipod, ipad, smartfone, tablet,  celular  e até a oportunidade de assistir uma , ou duas, partidas de futebol . Coisas bem efêmeras; afinal... a  vida passa mesmo...                                                                                        Reginalus (dez/11)

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